Não sei como começar a escrever isso. É uma das coisas mais dolorosas que eu já senti na minha vida. Sentir falta do meu pai e não conseguir querer estar sempre perto. Alguns quilômetros de distância e alguns anos de não ser mais a “princesa do papai”. Mesmo com algumas declarações proferidas por ele que nunca vão sair da minha cabeça, minha constatação de que quando ele morresse eu iria morrer junto continua firme. Saudades de quando eu nunca tinha visto meu pai chorar ou fragilizado por coisas da vida. Ele era meu herói e ver que ele é tão mortal quanto eu me tortura.
As vezes acho que ele já não me ama tanto quanto antes. Eu continuo amando ele tanto que chega a ser mais doloroso ainda escolher a mim mesma. Mesmo ele não sabendo me consolar sempre, eu ainda procurava o colo dele para chorar. Agora que colo eu devo procurar quando ele me machuca? Eu sei que ele me ama muito mas as vezes acho que seria muito melhor se eu não existisse. Ele se machuca tanto quanto eu. Eu sei disso. Queria voltar a ser aquela menininha agarrada sempre no pescoço dele ou esperando ele chegar do trabalho para ficar grudada nele.
Espero que ele me perdoe por ser do jeito que sou. Espero que um dia ele tenha um pouco de orgulho de mim mesmo não sendo do jeito que ele gostaria. Espero que ele me perdoe por quase sempre estar deprimida. Espero que ele me perdoe por fazer ele sentir que ele falhou como pai. Espero que ele me perdoe por eu estar escolhendo o meu caminho. Eu nunca vou esquecer o quanto ele se esforçou para ser melhor mesmo quando ele falhou varias vezes anteriormente. As vezes sinto pena das pessoas ao meu redor. As vezes acho que eu poderia ser melhor e que essas pessoas que eu tanto amo mereciam melhor.
Saudades de quando ele me chamava de “chica” ou me pedia cheirinho - “dá um cheirinho no papai” - ou quando ele tocava incansavelmente “enjoy the silence” do depeche mode em todos os churrascos, quando ele comia algo e sempre compartilhava comigo com gosto. Ele não me entende mas acho que entendo ele e isso me parte o coração. Parece que eu não tenho mais nada. Me questionava se algum dia alguém iria me amar tanto quanto ele. Sinto falta dos domingos em que ele assistia o corinthians e ficava gritando, torcendo. Sinto falta dele comigo quando eu tinha medo de dormir sozinha, quando ele me levava ao boliche quase todas as quartas, quando ele me fazia café da manhã, quando ele não me brigava por tirar notas ruins mas dizia que eu ainda poderia melhorar, quando ele tentava me tranquilizar quando eu tinha medo de reprovar de ano, quando ele ia “pular onda” comigo na praia, me ensinava a nadar, quando ele me carregava nas costas na piscina, quando ele fazia graça para me fazer rir, quando me mostrava as roupas que ele havia comprado… Eu poderia citar mil coisas sobre ele, mas essas memórias me doem. Doem mesmo.
As coisas já não são as mesmas faz um tempo. Apesar dos machucados, eu ainda amo muito ele como nunca amei outra pessoa. Só não suporto mais ouvir coisas que partem o meu coração de alguém que eu amo com todas as minhas forças. Meu coração está estraçalhado e não há remédio que cure essa dor. Amar demais é uma grande punição. Espero que Deus me perdoe, espero que todos me perdoem por eu ser eu. Inclusive eu mesma. Todos ao meu redor mereciam mais. Eu queria ser mais.